Vamos pedir paciência

Chefe do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em Santa Catarina desde 2003, João José dos Santos estará à frente de duas novas duplicações em 2013: das BRs 470, no Vale do Itajaí, e 280, no Norte. Santos acumula a experiência de ter encarado a ampliação da BR-101 no trecho Sul. Nesta, cujos projetos foram desenvolvidos em 1998, o atraso nos investimentos federais arrastou o início das obras só para 2005, e ainda houve abandono de empreiteiras. O engenheiro reconhece a defasagem do investimento em infraestrutura no Estado e garante que as obras na BR-470 sairão no prazo porque os recursos estão garantidos. Também espera o apoio da comunidade no processo de desapropriação e no respeito à sinalização. Quando as obras começarem, o caos no trânsito será inevitável.

Jornal de Santa Catarina – Qual o tempo necessário para as obras começarem?

João José dos Santos – A empresa tem um prazo para a mobilização, canteiros, aprovação de equipe técnica, jazidas, usinas de asfalto. Embora a gente considere início de obra após a assinatura da ordem de serviço, máquinas na pista só entre 30 e 60 dias. Já falei com as entidades locais que vamos precisar de todos. É uma obra de grande complexidade. A BR-470 talvez devesse ter sido duplicada há 20 anos, vamos pedir paciência.

Santa – Por qual trecho a obra deve começar?

João José – Cremos que em 30 dias já possa ter uma frente de obras, principalmente no Belchior (em Gaspar), que identificamos como o melhor trecho e que independe de desapropriações. A ideia é começar pela vias laterais para depois desviar o tráfego pelas marginais.

Santa – E o Viaduto da Mafisa?

João José – Não diria que temos uma dívida, porque a gente fez o principal na rodovia federal. Mas essa obra a gente tem o compromisso e agora temos os instrumentos para concluir. Talvez a gente vá avançando o ano que vem, lá em julho. Ali haverá um binário no futuro (com a nova SC-108). E não vamos só atender a travessia de Blumenau, no sentido Jaraguá do Sul, como também a nossa rodovia. Acho que vai ser a solução definitiva para a Frederico Jensen.

Santa – Como a Superintendência garantirá a obra executada no prazo, sem aditivos e com qualidade?

João José – Temos um contrato que reza tudo isso. Recursos não faltam. No PAC, todas as obras começam com recursos disponíveis e, à medida do avanço físico da obra, vai preparando mais recursos. Então, não há nenhum porquê das empresas não trabalharem conforme o proposto. Há uma supervisão de obra que será contratada, com aparato de laboratório, topografia, para servir de braço do Dnit. Há uma supervisão ambiental também. A obra é de quatro anos, talvez terminemos antes. Difícil é fazer todas as frentes atuarem ao mesmo tempo, para garantir a trafegabilidade.

Santa – Como o usuário pode ajudar a fiscalizar?

João José – O principal, além da paciência, é também o respeito à sinalização da obra. É entender que vai ter bloqueio da rodovia para colocar pavimento, viga de viaduto, passarela. Entendo que é um preço razoável, vale pelo progresso que vai gerar. A ideia de duplicar pelo eixo é para tratar o trânsito local também. Nós vamos ter vias laterais, calçadas, ciclovias, não é um trecho rural. É uma atitude corajosa fazer uma duplicação no meio urbano, mas precisamos resolver esse conflito.

Santa – Ao licitar o lote de Indaial, não houve interessados duas vezes. Como evitar que se repita?

João José – Como houve a necessidade de prorrogação dos prazos, houve o lançamento de um novo sistema de custos do Dnit, atualizado para o final de 2012. E isso teve consequência, como ajustamento em termos técnicos e financeiros. A gente entende que os preços não estão defasados, como poderia o mercado supor. O mercado pode estar selecionando obras. Acho que tem de insistir, não pode recuar quando a gente tem a intenção de fazer essa obra.

Santa – Pode haver pedido de aditivos financeiros?

João José – Claro que não é uma obra localizada. Se você constrói um edifício, o problema que tem é naquele terreno. Aqui, conforme a gente vai avançando, cada quilômetro é um problema. A gente nunca pode dizer que uma obra de engenharia desse porte não terá termo de aditivo. O projeto é muito bem concebido, mas poderá haver problemas. Os contratos do Dnit não comportam reajuste. A empresa, se der reajuste, é por conta dela.

Santa – Como estão as desapropriações?

João José – Nunca temos problema, porque quando é necessário um mutirão judicial, a gente faz. Na (BR) 101 Sul, na (BR) 163, na (BR) 282, em Campos Novos, foram tranquilas. A gente tem um problema de invasão da faixa do domínio. Recentemente, tivemos problemas com os ferros-velhos na 470, até por questão da Vigilância Sanitária, da dengue. Mas já houve vários diálogos com os moradores vizinhos. Principalmente em Indaial tem muito comércio local ao lado da rodovia. Precisaremos de todos para o convencimento da área empresarial.

Santa – E o restante da rodovia até o Alto Vale?

João José – Já temos o Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental para fazer o projeto até Indaial, já incluímos até a BR-116. Sempre digo: terminado o processo licitatório daqui, vamos focar a continuidade.

Santa – O que vai mudar no Estado quando a 101 e a 470, rodovias com maior fluxo, estiverem duplicadas?

João José – O que está acontecendo em SC tem defasagem de até três décadas. O Estado cresceu, mas não houve alternativa a essas rodovias. Vejo um novo momento em rodovias, ferrovias e área urbana. Há definição de bons planos diretores para evitar esse tumulto. O governo está pensando em novos eixos. Estamos falando aí em R$ 1,3 bilhão na BR-470. Na 280, também R$ 1,1 bilhão. Na 101, já foram investidos R$ 2 bilhões. Estamos começando a BR-470 e vamos terminar daqui a três ou quatro anos, se tudo correr bem.

Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 12899.
Editoria: Geral.
Página: 14.
Jornalista: Cristian Weiss (cristian.weiss@santa.com.br).