Vale da longevidade

BLUMENAU – Se há algum segredo para a longevidade, ele está escondido no Vale do Itajaí. Balneário Camboriú, Blumenau, Brusque e Rio do Sul são as cidades com maior expectativa de vida no Brasil: 78,6 anos para quem nasce por aqui. O índice destas quatro cidades é de 0,894 sendo que a pontuação máxima que pode ser atingida é 1. O valor atingido é maior que o de outras 5.570 cidades brasileiras.

O resultado foi apresentado ontem pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) para compor o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM)*. Além destes quatro municípios, Gaspar, Rodeio e Pomerode também estão entre os 30 mais longevos do país.

Alegria é o segredo de viver por mais tempo. É o que aposta Werner Frischknecht, 72 anos. O aposentado, que carrega uma sacola cheia de frutas recém-compradas na feira livre em frente ao Parque Vila Germânica, em Blumenau, comenta as atividades que realiza no dia a dia: canta em dois corais e ainda trabalha. Inclusive, brinca com a idade: invertendo os números, tem apenas 27 anos. Para a longevidade dos moradores do Vale, Werner tem palpites:

– Temos um povo trabalhador e festas. Quem tem o que fazer, com o que se ocupar, vive mais. Talvez, por isso, aqui vamos mais longe.

Para o coordenador do Programa de Educação Permanente (Proep) da Universidade da Região de Blumenau (Furb), Fábio Matos, a cultura do envelhecimento saudável pode explicar os índices de longevidade na região.

Cícero André dos Anjos, 66 anos, é um exemplo desta consciência. Há um ano, resolveu buscar na musculação mais qualidade de vida. Os exercícios lhe renderam um corte nos remédios para hipertensão: dos cinco comprimidos, passou para apenas um. Ganhou fôlego e condicionamento para duas corridas: uma de cinco e outra de seis quilômetros.

– Não me vejo como uma pessoa velha, minha mãe tem pouco mais de 80 anos e está muito bem. Para isso, sei que é preciso cuidar da alimentação e continuar na academia – comenta Anjos.

Matos, que estudou o envelhecimento ativo, reforça que as políticas públicas ainda estão muito longe das ideais, mas estão melhores do que no passado:

– Os idosos de hoje são proativos: fazem cursos de atualização, tem mais acesso a saúde, educação, mobilidade. Estes são fatores que acabam aproximando o índice destas quatro cidades com índices tão altos, além do predomínio de algumas etnias.

O geriatra Ricardo Koszuoski acredita que a expectativa média de 78,6 anos é muito alta e acrescenta outros fatores que contribuem para o número como qualidade das moradias e boas condições sanitárias. Além disso, Koszuoski reforça que a baixa mortalidade infantil e de jovens também compõem o índice.

*O IDHM é resultado do cruzamento de mais de 180 indicadores socioeconômicos do IBGE e é divido em três dimensões: a longevidade (oportunidade de viver mais), o acesso a educação, e o padrão de vida (renda familiar). O índice varia de 0 a 1, sendo que quanto mais próximo o valor for de 1, maior será o IDHM.

Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 12906.
Editoria: Geral.
Página: 12.
Jornalistas: Sarita Gianesini (sarita.gianesini@santa.com.br) e Tatiana Santos (tatiana.santos@santa.com.br).