Vale despedaçado

A ambulância de Santa Terezinha esgueira-se no barranco da SC-427, em Rio do Campo. Em marcha lenta, serpenteia para fugir das fendas na estrada da localidade de Passo Manso e dos caminhões carregados de grãos vindos no sentido contrário. Escapa de trechos em que o asfalto, de tão corrompido, se assemelha a uma estrada de terra. Os policias militares do Posto Rodoviário de Taió só saem para atender a ocorrências por lá de caminhonete. E avisam:

– Se for de carro pequeno, é melhor ir bem devagar.

A rodovia é uma das piores no Vale do Itajaí. Projetada para o limite de 80Km/h, apresenta trechos que impedem ir além de 10Km/h, devido à falta de manutenção. Pelo menos 11 rodovias serão restauradas pelo Programa Pacto das Estradas, do governo estadual. Mas outras, como a Jorge Lacerda e a SC-477, de Indaial a Timbó, não têm previsão de reparos. Ambas têm ondulações provocadas pelos sucessivos tapa-buracos e novas fendas.

O Santa percorreu 325 quilômetros do Litoral Centro-Norte ao Alto Vale, considerados os piores pela Polícia Militar Rodoviária, dos 1 mil que compõem a malha regional. Além do pavimento deteriorado, falta de acostamento, sinalização apagada, vegetação sobre a pista, desabamento do asfalto e deslizamento de terra também foram problemas detectados.

Programa estadual promete obras em três das rodovias mais críticas

Em Luis Alves, as crateras da SC-414 são tamanhas que é difícil encontrar quem não se revolte. Em um posto de combustíveis, o bananeiro Altair Albertin, 40 anos, interrompeu o trabalho com o caminhão terça-feira. A barra de direção não resistiu aos solavancos. A bananicultora Cláudia Borges Hesse, 38, gastou R$ 1,3 mil para comprar pneus novos para seu Aircross, destroçados nos buracos do Bairro Escalvado, há um mês. Além de deslizamento de terra, o trecho tem buracos que superam os 60 centímetros de diâmetro.

Em Ituporanga, moradores da Bela Vista bloquearam a SC-110 duas vezes em junho. Após os protestos, foram feitas operações tapa-buraco, mas as fissuras são vistas novamente.

O Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra) admite não ter recursos para a manutenção das estradas. Mas pelo menos três delas estão em obras pelo Pacto das Estradas, como a SC-427, em Rio do Campo. A ambulância que passava por lá quarta-feira retornou à base intacta. Havia levado um paciente ao Hospital Regional de Rio do Sul. Ao volante, o secretário de Saúde de Santa Terezinha, Adilson Wollinger:

– Imagina sair com emergência de cirurgia cardíaca ou fratura. O jeito é estabilizar bem o paciente, porque essa estrada está complicada.

Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 12916.
Editoria: Geral.
Página: 18.
Jornalista: Cristian Weiss (cristian.weiss@santa.com.br).