A pequena lagoa rente ao Km 45 da BR-470 está sem peixes. Tilápias foram retiradas do viveiro há mais ou menos um mês por Antônio Donizete, 54 anos, caseiro e tratorista em uma propriedade no Bairro Belchior Baixo, em Gaspar. Depois dos peixes, foi-se a água. Donizete conta que recebeu a visita da um engenheiro da Sulcatarinense – empresa responsável pela duplicação dos lotes 3 e 4 -, avisando que o criadouro estava no caminho de uma futura marginal da BR-470.
– Tirei todas as tilápias da lagoa, soltei as pequenas na arrozeira, esvaziei tudo. Só que faz mais de um mês que não vejo ninguém ali. Vieram aqui, trabalharam dois ou três dias e pronto, foram embora. Acho que é tudo uma enganação. Enchi a lagoa de volta!
Donizete lembra que até apareceram caminhões e escavadeiras no Belchior, mas a ausência de máquinas e de operários nos arredores da rodovia e de casa, no lote 3, foi sinal para devolver pelo menos aos patos o habitat.
Passados três meses da assinatura da ordem de serviço que solenizou a esperada duplicação no dia 18 de julho, não há sinal das máquinas – de roçadeiras a caminhões – que indicariam a leigos que a BR-470 é uma rodovia em obras. A promessa da Sulcatarinense era de que o maquinário roncaria até os primeiros 60 dias de obra. O maquinário pareceu. Foi retirado. E a tinta que marca o ponto inicial da duplicação da rodovia no Km 44,8 da BR-470, Bairro Belchior Baixo, em Gaspar, começa a virar mancha aguada no asfalto.
A Superintendência do Departamento Nacional em Infraestrutura de Transportes (Dnit) em Santa Catarina alega que as obras seguem nos trabalhos de topografia, mas admite que nos locais em que é necessário corte de vegetação não há trabalho. Isso porque a Sulcatarinense aguarda a contratação da empresa que faz a gestão ambiental, para poder formar a equipe de biólogos que capturará os animais durante o serviço.
Mesmo com a parada na supressão vegetal, o Dnit afirma que as obras estão no ritmo esperado e a previsão é iniciar a pavimentação nos lotes 3 e 4 até o final de 2013. Durante a semana, surgiu a notícia de que o Ibama tinha emitido a autorização ambiental para as obras, mas o Dnit não confirma.
A inatividade aparente na duplicação da BR-470 também é percebida por Neves Luciano Schmitz, 43 anos, sócio de um ferro-velho que fica pouco antes do início do lote 3.
– Nos primeiros dias, logo depois daquela cerimônia em Gaspar, colocaram cones e bandeiras na Ponte do Belchior. Depois, caminhão ou máquina ninguém viu – recorda.
O motorista de guincho Adilson Xavier, 45, percorre a BR-470 até quatro vezes diariamente. Quinta-feira, depois de circular pelo trecho da rodovia em Indaial, não avistava nem técnicos fazendo medições nos terrenos laterais.
– Desde que se falou na duplicação, não tenho visto obra – conta.
Débora dos Santos, 30, administra uma mecânica no Km 67, em Indaial. Diante do terreno que funcionará como principal canteiro de obras da duplicação, a empresária conta que viu operários no local:
– Sempre é um carro com o pessoal que faz medição.
Ontem de manhã, não foram vistas obras às margens do trecho a ser duplicado.
Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 12978.
Editoria: Geral.
Página: 14.
Jornalista: Sarita Gianesini (sarita.gianesini@santa.com.br).