Poucos querem vestir a farda

Para ser soldado da Polícia Militar (PM) não basta ter vontade. Amor pela causa, disposição, curso superior, aprovação em testes físicos e escrito são apenas o começo para ingressar no curso de formação. No Vale do Itajaí, onde o mercado de trabalho oferece abundância de vagas tanto na indústria quanto no comércio, o número de interessados em participar do concurso para entrar na corporação é cada vez menor. De acordo com o Centro de Seleção, Ingresso e Estudos de Pessoal (Cesiep) da Polícia Militar, o Vale é a região que menos recebe inscrições para o curso de formação de soldado em Santa Catarina.

No edital aberto em 2010, havia 206 inscritos para 187 vagas. Após as provas, apenas 47 homens vieram para a região. No concurso de 2012 foram 233 inscritos para preencher 171 vagas que beneficiariam a região de Balneário Camboriú e Vale do Itajaí, mas vieram apenas 77 soldados, que chegaram neste ano. Ilon Joni de Souza, comandante dos batalhões da PM sediados em Blumenau, Brusque e Rio do Sul, justifica a falta de interessados na 7ª Região, que reúne 44 municípios:

– A partir do momento em que a PM passou a exigir graduação diminuiu o número de interessados. Outro fator histórico na região é a oportunidade de emprego ser maior do que em outras regiões do Estado, limitando ainda mais.

O economista Nazareno Schmoeller reforça o impacto que a exigência do curso superior gerou. Ele acredita que é incoerente o pré-requisito, pois na região há apenas faculdades particulares e é necessário desembolsar cerca de R$ 30 mil para completar um curso de graduação:

– A quantidade de pessoas que têm Ensino Superior já é pequena. Quem busca estudar não vai querer correr riscos, se a pessoa pode ter outras funções aqui na região ganhando mais.

Segundo o comandante Souza, historicamente sempre houve muito mais candidatos do que vagas, mas no Vale do Itajaí o número é menor ou igual à oferta. Para suprir a demanda, candidatos de outras regiões do Estado prestam concurso para locais com menor concorrência.

Candidatos que vêm de outras regiões acabam pedindo transferência

O problema é que depois que se formam, eles acabam fazendo pressão para ir para o local de onde são, mas a transferência só ocorre perante autorização do comando-geral em função da necessidade de permanência do efetivo aqui:

– O último concurso acabou não completando o número de vagas. A deficiência de efetivo aumenta à medida que a cidade cresce e, além disso, nossa tropa envelheceu e tem o direito de requerer inatividade. Houve um período que não teve inclusão de efetivo na instituição e isso traz consequências até hoje. (Colaborou Ânderson Silva)

Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 13000.
Editoria: Segurança.
Página: 26.
Jornalista: Fernanda Ribas (fernanda.ribas@santa.com.br).