Ana Regina da Veiga abraça a médica Likeeydys Rodriguez na unidade de Estratégia de Saúde da Família Rodeio 32. Parece que as duas são velhas amigas, mas é a primeira vez que a moradora se consulta com a estrangeira. A paciente de 31 anos foi diagnosticada com Lesão por Esforço Repetitivo (LER) e saiu com uma lista de exames para fazer, além de ter sido encaminhada a um especialista. A médica, de 30 anos, atende há um mês em Rodeio. Deixou o marido e o filho de dois anos para trabalhar por três anos no Brasil.
– Ela foi simpática, objetiva e atenciosa. Consegui entendê-la, pois falou pausadamente. Esses médicos deixam a família em Cuba e em nenhum momento deixam transparecer isso para nós – avalia a moradora.
Além de Likeeydys, o Vale do Itajaí conta atualmente com outros 50 profissionais vindos do Brasil e outros seis países pelo programa Mais Médicos, criado ano passado pelo governo federal para reforçar a saúde pública. A vinda deles causou polêmica – Blumenau baixou um decreto proibindo a atividade de profissionais sem revalidação do diploma – e gerou indignação da classe médica. Passados cinco meses da chegada dos primeiros estrangeiros e do ápice das contestações, cada um deles atende até 32 pessoas por dia para suprir a falta de assistência médica na região. Em cidades como Rodeio, a equipe duplicou com a chegada de Likeeydys e outra cubana. Em Brusque, de 20 equipes a cidade passou a contar com 25 e em Gaspar três médicos estrangeiros se dividem em dois postos nos bairros Santa Terezinha e Barracão.
A população admite que há problemas na comunicação com os falantes de espanhol, mas avalia que o atendimento é diferenciado e que não há mais falta de clínicos gerais nos postos de saúde. Os médicos do programa conversam sobre a rotina do paciente, questionam sobre os medicamentos e até demoram mais tempo na consulta.
– Já me consultei com o médico cubano e levei minha filha de seis meses também. É só falar mais devagar que eles entendem. Com novas equipes, eles conseguem atender mais pessoas. Antes era demorado conseguir vaga – conta a gasparense Edinéia Broring, 27, moradora do bairro Santa Terezinha.
A secretária de Saúde de Gaspar, Márcia Adriana Cansian, diz que o primeiro médico chegou à cidade em setembro e que não houve reclamações da população em relação ao idioma, já que a equipe de cada posto os ajuda quando há dificuldades. Se houver necessidade, a secretaria pretende inseri-los em capacitações para melhorar a comunicação em língua portuguesa.
– Achei o médico atencioso. Tem que ter calma para entender tudo o que ele fala, mas pelo menos agora tem alguém para nos atender – comemora Joseli Tonon, 32, de Gaspar.
Em Guabiruba, segundo a diretora de Saúde, Vania Maria Schaefer, os moradores aceitaram bem as duas médicas cubanas:
– Acompanho as duas e percebi que elas são dedicadas, tocam no paciente e não fazem consultas rápidas. A experiência está sendo muito boa, não achei que seria tanto.
Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 13068.
Editoria: Geral.
Página: 18.
Jornalista: Fernanda Ribas (fernanda.ribas@santa.com.br).