Aos 42 anos, Marvin Hang tem pela primeira vez a sensação de regredir no tempo. Diariamente, pedala até a margem esquerda do Rio Itajaí-Açu e embarca o filho Lucas e a bicicleta na bateira compartilhada pelos vizinhos. Rema até a outra margem, prende o barco no tronco mais próximo e segue ao trabalho pedalando. Num percurso que leva 15 minutos, a travessia do Rio Itajaí-Açu, entre os bairros Rainha e Bela Aliança, tem sido feita à canoa desde setembro.
A ponte pênsil, que por mais de quatro décadas uniu as duas margens, ruiu com a enchente do dia 9 de setembro de 2011, que atingiu 80% de Rio do Sul. Por terra, o desvio amplia em 10 quilômetros a travessia entre os dois bairros, sedes de cerâmicas e seus empregados. Desde a cheia, que completa seis meses, os municípios do Vale enfrentam a burocracia para recuperar a infraestrutura. Mas, diferente da rotina de Marvin, a preocupação em alertar com antecedência os desastres não regrediu no tempo. Em seis meses, o Estado está capacitando as Defesas Civil regionais, os municípios menores estão mais atentos aos riscos e novos sistemas de alertas surgem ao longo da Bacia do Rio Itajaí.
Coordenador do Centro de Operação do Sistema de Alerta (Ceops), da Furb, o engenheiro hidrólogo Ademar Cordero garante que, em 30 anos de serviços, nunca presenciou um momento com tantos investimentos simultâneos após a ocorrência de um desastre.
– Devido à sequência de desastres que aconteceram no país e no Estado nos últimos anos, os governos estão mais atentos e perceberam a importância de investir na prevenção. Não vi isso nem mesmo após as grandes cheias da década de 1980 – explica.
Governo lançou licitação para plano de engenheira de três obras
Embora ainda não sejam uma realidade, nos últimos seis meses houve avanços em projetos preventivos pelo Vale. No mês passado, o governo do Estado lançou licitação para desenvolver os planos de engenharia de três obras que compõem a primeira etapa do Projeto Jica. Entre as obras estão a ampliação da capacidade das barragens de Taió e Ituporanga, a construção de comportas no Rio Itajaí-Mirim e a aquisição de radar meteorológico, para prever chuvas com até três horas de antecedência. Mas o prazo de conclusão da primeira etapa, que abrange outras quatro obras, deve ser concluído apenas em 2016.
Nos seis meses desde a enchente, Rio do Sul mapeou as áreas de risco, Blumenau refaz o estudo para atualizar as cotas de enchente, que já baixaram de 8 para 7 metros, e também abriu licitação para prosseguir com as obras de recuperação da margem esquerda do Itajaí-Açu.
Data: 9 de março de 2012
Veículo: Jornal de Santa Catarina
Edição: 12473
Editoria: Geral
Página: 12
Jornalista: Cristian Weiss