Sorocaba, a cem quilômetros de São Paulo, é um exemplo de cidade que tem avançado na gestão de seu programa de coleta seletiva, que existe desde 2006. A Prefeitura fixou a meta de dobrar, em três anos, o alcance do programa, que hoje atende 15% das residências e é responsável por coletar, em média, 330 toneladas/mês de materiais recicláveis. Para isso virão recursos do BNDES: em agosto, a Prefeitura de Sorocaba e o banco assinaram um acordo de R$ 10 milhões para ampliação do programa na cidade.
O apoio do BNDES é não reembolsável, com recursos do Fundo Social do Banco, e corresponde a 50% do valor total do projeto (R$ 5 milhões). O restante vem de recursos próprios do município, que tem 596 mil habitantes. Vai custear a compra de veículos (caminhões e triciclos motorizados) e equipamentos para beneficiamento dos resíduos, além da construção de dois novos galpões para receber os materiais e cursos de capacitação para a mão de obra.
Hoje o sistema de coleta seletiva de Sorocaba é baseado em parcerias com quatro cooperativas de catadores. A prefeitura entra com a infraestrutura, como galpões e equipamentos e apoio logístico – os caminhões fazem a coleta porta a porta, e a cidade já adotou também a tecnologia da coleta mecanizada, onde caminhões baús recolhem os recicláveis direto de contêineres, evitando o contato humano com o lixo. A cidade também possui um centro de reciclagem de resíduos eletroeletrônicos, que deve ser ampliado, e uma usina de biodiesel, que processa o óleo de cozinha recolhido nas residências.
"A meta é que, com os recursos do BNDES, possamos sair das atuais 330 toneladas de resíduos coletados por mês para 600 t/mês e, no longo prazo, chegar a 2.000 t/mês", explica Gislaine Vilas Boas Simões, assessora técnica da Secretaria de Parcerias da Prefeitura de Sorocaba. "Temos um modelo concreto de coleta seletiva, que funciona, mas precisa ser aprimorado para ganhar eficiência e ser mais rentável", diz. Segundo ela, o custo para a prefeitura é de R$ 700 por tonelada de resíduo.
Vizinha de Sorocaba, a cidade de Itu é outro exemplo de município de médio porte que está colhendo bons resultados em sua gestão dos resíduos urbanos. O modelo local é baseado em uma parceria público-privada com a empresa Eppo Saneamento Ambiental, responsável pelos serviços de coleta e gestão do aterro sanitário, e a Comarei (Cooperativa de Materiais Recicláveis de Itu), que cuida da coleta seletiva propriamente dita, recolhendo um volume de 400 toneladas mensais de materiais recicláveis.
Para chegar a esse volume, a adesão da população foi fundamental. Os moradores de Itu são orientados a separar os resíduos entre secos e úmidos. "De cada dez residências, nove separam o lixo", relata Patricia Otero, secretária de Meio Ambiente de Itu. A cidade conta ainda com uma usina de compostagem, que transforma os resíduos das podas urbanas de árvores em adubo orgânico e está elaborando um plano para o descarte correto dos resíduos da construção civil.
Preocupada com os efeitos do acúmulo de lixo sobre o turismo, Natal aproveitou a aprovação da PNRS e o fato de ter sido escolhida como uma das cidades-sede da Copa do Mundo de 2014 para fazer uma revolução em sua gestão dos resíduos. Com 810 mil habitantes, a capital nordestina conseguiu, em dois anos, sair de um patamar de coleta seletiva de 42 toneladas/mês para atuais 300 toneladas/mês. A meta é chegar a 1.200 toneladas/mês de materiais recicláveis. Hoje, 12 dos 36 bairros de Natal são atendidos pelo serviço, cuja principal inovação é a contratação direta dos catadores pela prefeitura. A Prefeitura paga aos catadores, pela coleta seletiva, o mesmo valor pago à empresa de coleta regular de lixo – R$ 162 por tonelada. "O diferencial é trabalhar a inclusão social do catador", diz Heverthon da Rocha, gerente de Meio Ambiente da Companhia de Serviços Urbanos de Natal.
Veículo: Jornal Valor Econômico.
Edição: 3086.
Caderno Especial: Resíduos Sólidos.
Página: F2.
Jornalista: Andrea Vialli.