Na região central do Rio Grande do Sul, há mais de duas décadas um dilema assolou usuários da BR-386. Campeã de mortes em acidentes no estado vizinho, a rodovia de 445 quilômetros tem trechos por onde trafegam 30 mil veículos por dia, em grande parte caminhões, que escoam a produção de grãos estado afora. Perfil similar ao da BR-470. Com mais de 35 mil veículos por dia – número que cresceu 30% somente nos últimos dois anos -, a rodovia catarinense também é povoada por caminhões que transportam a produção agropecuária do Oeste ao Porto de Itajaí. Em 12 anos, soma quase 1,4 mil mortes. Mas a rodovia gaúcha está em vantagem.
Desde novembro de 2010, 33,8 quilômetros entre Estrela e Tabaí estão em duplicação. Das quatro empresas responsáveis pelos trabalhos, três (Momento, Conpasul e Iccila) formam o consórcio que duplicará 12,9 quilômetros entre Gaspar e Blumenau, com previsão de início para março.
A obra no Rio Grande do Sul foi orçada em R$ 147, 4 milhões, mas o custo final deve chegar a R$ 170 milhões, acréscimo de 15%. Para duplicar o trecho entre Blumenau e Gaspar da BR-470, estão previstos R$ 140,6 milhões.
Ex-prefeito de Fazenda Vilanova (RS) e presidente da Comissão Pró-Duplicação da rodovia, José Luiz Cenci (PP) garante que a meta inicial era concluir o trecho da BR-386 um ano antes do previsto no contrato: novembro de 2013. As obras vinham num ritmo intenso até atingir os últimos nove quilômetros. Sofreu atrasos porque, em julho de 2012, índios caingangues que vivem perto da rodovia ameaçaram bloquear a obra, se não fossem retirados do local pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Hoje, quatro quilômetros pendentes estão em obras.
– É quase impossível uma obra federal dessas ser executada dentro do cronograma. A ideia era terminar um ano antes. Como houve esse problema, atrasamos. Mesmo assim, estamos na expectativa de encerrar no prazo contratual – avalia Cenci.
Segundo o ex-prefeito, a cidade de 3,7 mil habitantes, a 100 quilômetros de Porto Alegre, cortada ao meio pela BR-386, já foi a trigésima em número de acidentes no Brasil, somente por causa da rodovia não duplicada. As novas pistas estão prontas, mas vazias, porque a estrada é pedagiada pelo Estado, e o contrato com a concessionária só termina em abril.
Empresas cumpriram prazos na obra gaúcha
Engenheiro do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) no Rio Grande do Sul, Hiratan Pinheiro da Silva garante que o consórcio Momento-Conpasul-Iccila, que fará a duplicação no Vale do Itajaí, tem experiência nesse gênero de obra:
– As empresas foram sempre bem mobilizadas e cumpriram os prazos. Até nesse imprevisto com a aldeia indígena elas têm se envolvido para agilizar a solução.
A duplicação da rodovia do estado vizinho, no entanto, é um pouco distinta e pode limitar as comparações com a BR-470. Lá, o trecho é plano e exigiu a implantação de poucas pontes e viadutos. Por aqui, nos 73,4 quilômetros entre Navegantes e Indaial, estão previstos oito pontes, 26 viadutos e 69 quilômetros de calçadas e ciclovia. O consórcio Momento-Conpasul-Iccila, no entanto, duplicará, por enquanto, o lote entre Gaspar e Blumenau. A definição da empresa que fará o lote 4 (Blumenau a Indaial) será dia 21, e o edital para o lote 1(Navegantes até o acesso a Luís Alves) deve ser lançado no fim do mês. O lote 2 (acesso a Luís Alves até Gaspar) será lançado em março.
Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 12736.
Editoria: Geral.
Página: 16.
Jornalista: Cristian Weiss (cristian.weiss@santa.com.br).