Vizinhos da rodovia

As retroescavadeiras cessaram os motores no acostamento do Belchior Baixo. E o início da retirada da vegetação rasteira que dará lugar às pistas duplicadas da BR-470 parou segunda-feira, à espera de uma licença do Ibama para captura de animais silvestres.

Diferente das outras licenças obtidas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) para começar a duplicação, essa será concedida à empresa executora, a Sulcatarinense, para garantir que durante os trabalhos a flora e a fauna sejam prejudicadas o mínimo possível. O documento vai explicar o que a empresa deve fazer com os animais encontrados ao longo da obra.

O pedido da licença foi protocolado no Ibama quinta-feira, em Brasília. Apesar de mais uma barreira burocrata, o processo tem seu valor. Às margens da BR-470, há mais vida do que os olhos dos motoristas podem alcançar. Jacarés de papo-amarelo, gatos e cachorros-do-mato, tatus, beija-flores e peixes habitam o que restou da Mata Atlântica e os cursos d'água próximos. Algumas espécies raras e outras ameaçadas de extinção no Estado, como o gavião-pombo, lambari-listrado, a canela-preta e nove tipos de borboletas.

Nos 74 quilômetros por onde passarão as pistas duplicadas, de Navegantes a Indaial, convivem pelo menos 520 espécies de animais e inúmeros espécimes de plantas, conforme apontamento do Estudo de Impacto Ambiental.

A licença de captura, coleta e transporte de fauna silvestre permite a empresa, por meio de profissionais capacitados, recolher ou afugentar para a mata animais encontrados na obra. A licença serve também para legalizar o transporte de animais capturados. Segundo o Dnit, a empresa passaria agora à supressão de plantas maiores e ao corte de árvores para os quais já tem licença, e que podem servir de habitat para espécies. Por isso, o trabalho foi paralisado no trecho.

– O que deve acontecer é que ao longo dos trabalhos tem que haver monitoramento do meio ambiente – defende o doutor em Biologia Animal e professor da Furb, Sérgio Luís Althoff.

Mais adiante, cadáveres e vestígios de animais encontrados devem ser armazenados para catalogação. O processo já ocorre com as plantas nativas, nesse caso sem necessidade de licença. As coletas poderão ser usadas na restauração de áreas degradadas pelas obras, compensação ambiental, monitoramento da fauna e mapeamento dos atropelamentos.

– A licença (de captura) serve para que não se corra o risco de algum órgão ambiental questionar depois – simplifica o superintendente do Dnit em Rio do Sul, Elifas Marques.

Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 12946.
Editoria: Geral.
Página: 18.
Jornalista: Cristian Weiss (cristian.weiss@santa.com.br).