Os supersticiosos devem ter dito que a neve que caiu no Vale do Itajaí cinco dias depois da assinatura da ordem de serviço para a duplicação de 28,31 quilômetros da BR-470 era um presságio. Cinco meses depois, a certeza. O fenômeno raro na região pode ter sido um mau agouro na visão dos pessimistas. Ou não, já que a humana foi a única natureza que interferiu na falta de máquinas no entorno das pistas da rodovia.
Há cinco meses, quando a duplicação passou de palavra solta no ar para compromisso firmado em papel, políticos e autoridades mencionaram o prazo de cerca de 60 dias para contratar a gestora ambiental da duplicação e conseguir autorizações para captura de fauna e jazidas. Porém, estes documentos eram considerados ajustes.
Depois da autorização para a obra que de tão esperada beirava o irreal, muitas coisas com tom de boas ou más profecias aconteceram por aqui e pelo mundo. Um papa argentino veio ao Brasil rezar a Jornada Mundial da Juventude. Blumenau sofreu com mais uma enchente no final de setembro e comemorou mais uma recuperação de cheia com a 30ª edição da Oktoberfest em outubro.
Durante o período, a superintendência do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) apresentou o canteiro de obras que servirá de base para a Sulcatarinese – contratada para duplicar o Lote 3, que vai de Gaspar a Blumenau, e o Lote 4, de Blumenau a Indaial – no Km 67 da rodovia, em Indaial. Rapidamente, os 60 dias para pequenos acertos dobraram. E, em 25 de novembro, o Dnit escolheu a MPB Saneamento para fazer a gestão ambiental de toda a duplicação.
Só a partir desta escolha o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) homologou a autorização de captura, coleta e transporte de material biológico. Era 5 de dezembro, dia em que morreu Nelson Mandela. O funeral do líder sul-africano durou 10 dias. Período que não foi suficiente para as máquinas nem sequer estacionarem às margens da BR-470.
O superintendente do Dnit em Santa Catarina, João José dos Santos, garante que os trabalhos ultrapassarão a topografia somente na primeira quinzena janeiro, no Bairro Belchior, em Gaspar. Hoje são 152 dias – equivalentes a 9,93% do prazo para execução da obra – desde as assinaturas que marcaram o início das obras. Resta esperar para ver se a duplicação da BR-470 vai virar intenção de Ano-Novo ou a pior tradição tipicamente brasileira: com começo só depois do Carnaval.
Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 13027.
Editoria: Geral.
Página: 16.
Jornalista: Sarita Gianesini (sarita.gianesini@santa.com.br).