A chuva perdeu força em Santa Catarina, neste início de semana. Mesmo assim, o risco de desmoronamentos ainda permanece em várias regiões do Estado. No município de Benedito Novo um deslizamento de terra represou um ribeirão. A água que se acumulou no local ameaça uma comunidade rural do município vizinho, Rio dos Cedros.
Trafegar por essa região só com auxílio de veículos especiais. Pelo caminho o cenário assusta: desmoronamentos são freqüentes e famílias inteiras tiveram que abandonar as propriedades rurais às pressas.
Na localidade de Rio Tigre, as fendas no campo indicam o perigo: a terra encharcada ameaça deslizar e soterrar residências. Duas pessoas morreram no início da semana. Em uma outra localidade, casas estão completamente alagadas e o acesso bloqueado. O agricultor Valdomiro Campestrini não acredita no que vê. "Isso é fora de série", afirmou.
A terra que desceu acabou represando o pequeno ribeirão que tinha apenas dois metros de largura e formou uma barreira. Se houver rompimento, toda uma comunidade pode desaparecer.
Segundo a Defesa Civil, são 100 mil metros cúbicos de água represada que podem atingir 25 casas em interior de Rio dos Cedros. Todas as famílias já foram retiradas da área de risco em Rio do Cedro.
A agricultora Beatriz Leitemberg viu quando a terra começou a ceder. "Parecia que descia o barranco todo. Eu não sabia o que fazer. Nunca vi uma coisa assim na minha vida, nunca, nunca", disse.
Na segunda-feira, líderes de cooperativas de crédito do Vale do Itajaí se encontraram, em Florianópolis, com representantes de diversos órgãos de governo e do Banco do Brasil. Os produtores pedem dinheiro para a reconstrução das propriedades destruídas. Seriam R$ 100 mil, por agricultor, com dez anos para pagar e juros de 2% ao ano. A proposta deve ser levada à Brasília na próxima semana.
E as chuvas que castigaram o leste de Santa Catarina nas últimas semanas afetaram um dos principais portos do sul do Brasil.
O porto de Itajaí é o segundo em movimentação de contêineres, perdendo apenas para o de Santos. Por ele são escoados 30% das carnes e 60% da maçã exportada pelo país.
A Secretaria de Comércio Exterior divulgou que o Brasil deixou de receber cerca de U$ 370 milhões em novembro, principalmente por causa do fechamento do porto de Itajaí.
Com o porto de Itajaí parado por causa das enchentes, as cargas estão sendo desviadas para os portos de Navegantes e São Francisco do Sul, em Santa Catarina, e de Paranaguá, no Paraná.
São 250 quilômetros a mais na viagem de quem deveria descarregar em Itajaí. A chegada dos contêineres de Santa Catarina a Paranaguá foi confusa. Os caminhões fizeram fila em volta do terminal privado. Foi preciso contar com a ajuda do porto público para arrumar espaço no pátio e abrir mais dois pontos para embarcar as cargas.
"Já recebemos dois navios que estavam direcionados ao Porto de Itajaí e operaram nesse sábado e domingo em Paranaguá com mais de 800 contêineres movimentados. É o momento de unirmos nossos esforços logísticos e de trabalho para que possamos dar um alerta nessa situação tão dramática", afirmou o superintendente do porto, Daniel Lúcio de Souza.
Os caminhoneiros têm ficado, em média, seis horas na fila até descarregar os contêineres. Um sacrifício pequeno para quem viu de perto a tragédia provocada pela chuva.
O caminhoneiro Sarildo de Araújo, que mora em Itajaí, deixou pra trás a casa invadida pela água. Foi para estrada, porque tem uma vida inteira pra reconstruir. "Estar vivo já é muito bom. Eu salvei a minha esposa, meus filhos, o meu neto para mim isso é muito bom", afirmou o caminhoneiro.
Fonte: Programa Globo Rural, exibido em 2 de dezembro de 2008.