“Temos mais de R$ 500 milhões em prejuízos”

Entrevista: João Paulo Kleinübing, prefeito de Blumenau

Tempo e dinheiro. Com a cidade deixando para trás o "estado de calamidade pública", estes são os dois elementos necessários para Blumenau ser reconstruída, aponta o prefeito João Paulo Kleinübing. Semana passada, ele conversou com o Santa.

Jornal de Santa Catarina – A prefeitura calculou o valor financeiro do prejuízo causado pela tragédia?

João Paulo Kleinübing – Nós temos levantamentos preliminares. São mais de R$ 500 milhões em prejuízos na infra-estrutura pública, destruição de casas etc.

Santa – Qual é a principal preocupação do senhor, agora?

Kleinübing – Definir onde as famílias vão morar no período de um ano, até que as casas fiquem prontas. Estamos discutindo várias alternativas. Vamos trabalhar no que se perdeu da infra-estrutura viária, pontes, ruas. Temos de estabilizar essas barreiras que ainda estão na cidade.

Santa – De onde virão os recursos para a reconstrução?

Kleinübing – Da união, muitos. Também recursos do governo do Estado. Precisamos estar vigilantes nesse aspecto para atender a reconstrução das casas e da infra-estrutura pública. Duas escolas e uma unidade de saúde foram destruídas. Sete CEIs (Centros de Educação Infantil) foram interditados. Dezenas de creches, unidades de saúde e escolas perderam tudo. A estrutura está lá, mas não têm equipamentos, móveis e material didático. Tudo isso precisa ser recuperado com muito tempo e recursos.

Santa – Quanto tempo?

Kleinübing – No mínimo, dois anos. Nós temos uma obrigação: não cometer os mesmos erros, principalmente na parte habitacional.

Santa – Uma das lições tem relação com a urbanização dos loteamentos irregulares?

Kleinübing – Todo o trabalho de regularização é feito com base na abertura das ruas e a retirada das pessoas que estão em áreas de risco. No Morro Dona Edith e na Pedreira a tragédia não foi maior porque fizemos a urbanização e retiramos as pessoas em perigo. Do Morro da Pedreira tiramos 49 famílias ano passado.

Santa – O que deve mudar, então?

Kleinübing – A lição que fica disso tudo é, em primeiro lugar, que o conceito de área de risco mudou. Não é mais só aquela área ocupada inadequadamente. Vimos áreas seguras com casas de 50 anos que nunca haviam sofrido abalo ruírem, como na Hermann Huscher. Fica de saldo também a necessidade da criação do Serviço Municipal de Geologia, que faz parte da reforma administrativa que está na Câmara. Será um serviço para avaliar e gerar conhecimento sobre o terreno, sobre a cidade, com proposta de solução de contenção e de prevenção.

Santa – O senhor teme que a área condenada seja tamanha a ponto de o município ter problemas com a relocação das pessoas?

Kleinübing – É possível. E temos de estar preparados. Vamos enfrentar essa questão com seriedade.

Santa – Quais serão as condições de oferta das casas aos desabrigados?

Kleinübing – A Caixa Econômica vai financiar algumas, subsidiar. Vai depender do nível de renda e comprometimento. O município também vai subsidiar, financiar.

Santa – Até quando as pessoas poderão ficar nos abrigos?

Kleinübing – Até final de janeiro teremos de desmobilizar os abrigos. Estamos revendo o calendário escolar do ano que vem. O ano letivo está previsto para começar dia 9 de fevereiro e a idéia agora é que comece dia 2 de março, também para as escolas particulares e estaduais. Estas quatro semanas a mais serão importantes porque teremos mais tempo com trânsito menor para recuperar as ruas.

Santa – E como fica a formação do novo secretariado?

Kleinübing – A gente nem chegou a começar essa discussão. Justamente na semana em que eu voltei de férias (dia 17 de novembro), quando íamos começar a discutir o assunto, o problema estava instalado e não deu para mexer nisso.

Santa – Como o senhor lida com a frustração de ter de adiar a execução do plano de governo?

Kleinübing Essa é uma grande frustração. Parte daquilo que a gente tinha planejado não vai dar para fazer. É um novo desafio, de reconstruir a cidade. Vai precisar do esforço de todos nós. Mas ao mesmo tempo me sinto motivado para isso. Não diminuiu a minha vontade de trabalhar. Vou me dedicar de corpo e alma a isso nos próximos anos.

Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 11492.
Editoria: Geral.
Jornalista: Daiane Costa (daiane.costa@santa.com.br).