Governistas fazem pressão pela retomada da reforma tributária

A aprovação da reforma tributária é uma das principais prioridades do governo neste ano. Este foi o recado dado pelo ministro da coordenação política, José Múcio Monteiro, durante almoço com os líderes de todos os partidos da base governista na Câmara. No encontro, realizado em um restaurante de luxo em Brasília, Múcio e o relator da reforma, o líder do PR na Câmara, Sandro Mabel (GO), defenderam a aprovação da reforma como uma das medidas para combater a crise internacional. "A equipe econômica segue empenhada na aprovação da medida. Tanto que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, participará de um seminário internacional no início de março que mostrará ações que estão sendo tomadas pelo Brasil nestes últimos meses", disse Mabel.

O seminário será organizado pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social nos dias 4, 5 e 6 de março. Está prevista a presença de integrantes do governo e de economistas brasileiros e estrangeiros. Uma semana depois, alguns ministros, dentre eles, Dilma Rousseff (Casa Civil), participarão de outro seminário, dessa vez nos Estados Unidos, para também debater a crise internacional e a atração de investimentos para o Brasil. Segundo Múcio, a crise é grave, necessita da atenção de todos, inspira cuidados, mas o governo segue "fazendo o dever de casa" e tomará todas as medidas para minimizar os efeitos negativos no país.

O líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), declarou ontem que o Poder Executivo vai insistir na votação da reforma tributária, no plenário da Câmara, em 30 a 40 dias. Segundo ele, a oposição fez acordo para votar, mesmo sem compromisso de aprovar o mérito da proposta. "Não é matéria fechada", declarou o petista. Mabel, que reassumiu a liderança do PR neste ano, mas manteve a relatoria da reforma, colocou-se à disposição dos demais parlamentares para esclarecer dúvidas que possam dificultar a orientação das respectivas bancadas.

O parlamentar goiano, no entanto, tem uma visão menos pessimista do cenário internacional. "Não há como negar que a crise é séria, mas outros setores da economia poderão viver a mesma retomada que está sendo vista no setor automobilístico. Muitas empresas estão contratando porque os estoques acabaram, mas a demanda continua alta", disse o deputado, que também é empresário do setor de alimentos.

Além de tratar da reforma tributária, o encontro reunindo o ministro da articulação política e os líderes dos partidos aliados abordou o tema da reforma política. Múcio foi cauteloso, ciente de que os menores partidos têm resistência a alguns pontos do projeto encaminhado pelo governo ao Congresso. Lembrou que a consciência das dificuldades na tramitação levou o Executivo a encaminhar a reforma de maneira fatiada e independente. "Se aprovarmos um projeto, ótimo. Se aprovarmos dois, excelente. Se aprovarmos mais, melhor ainda", teria dito o ministro, segundo relato dos presentes. O líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), disse que o partido apoia todos os pontos da proposta do governo.

Nem os líderes nem Múcio falaram da eleição das Mesas na Câmara e no Senado e da vitória de Michel Temer para a presidência da Câmara. "Isto já passou, é página virada", brincou o líder do PP na Câmara, Mário Negromonte (BA). O almoço foi considerado uma homenagem dos líderes aliados a Múcio, que teria saído desgastado do processo eleitoral. (Colaborou Raquel Ulhôa)

Veículo: Jornal Valor Econômico.
Editoria: Política.
Jornalista: Paulo de Tarso Lyra, de Brasília.