Mapear o risco para prevenir

A chuva pode voltar a assustar Santa Catarina, mas se o Estado tiver aprendido a lição com a tragédia do ano passado, os danos poderão ser amenizados ou até evitados. Para que isso aconteça, uma das medidas emergenciais é o mapeamento de áreas de risco.

A constatação é dos engenheiros da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos (ABMS) que integraram uma base de apoio em Navegantes, no Litoral Norte, emnovembro e dezembro de 2008.

Durante o desastre, eles vistoriaram áreas de interdição, evacuaram locais de risco e resgataram corpos. Foram 135 mortos no Estado. O trabalho, feito junto com a Defesa Civil e instituições de ensino, embasou a principal conclusão do grupo: o poder público precisa se preparar para enfrentar situações desse tipo. "Se não podemos evitar as chuvas, podemos prevenir catástrofes", disse o presidente da ABMS, Jarbas Milititsky.

Em São Paulo, por exemplo, há um trabalho de monitoramento da Defesa Civil com a ajuda de especialistas de geotecnica. Em Santa Catarina, a prevenção ainda está no começo, mesmo com alguns avanços após a tragédia.

"O trabalho da Defesa Civil foi fantástico, mas não existe capacidade técnica instalada para lidar com esse tipo de problema. Nossas universidades já têm competência técnica para essa missão, mas os agentes públicos ainda não estão preparados", afirmou Milititsky. Segundo ele, a prevenção está ligada ao apoio técnico de especialistas.

De acordo com os engenheiros, o excesso de chuvas – 56 dias quase sem parar – foi o que desencadeou os 4 mil deslizamentos no Estado. "As chuvas intensas muito acima do previsto foram a causa da tragédia", definiu Edgar Odebrecht. "Chegamos a uma margem de colapso", completou o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Luiz Antonio Bressoni.

Os técnicos não negam que fatores sociais, como as construções irregulares, aceleraram o poder de destruição da chuva, mas quando perguntados sobre soluções apostam numa mobilização governamental. "Se houver mais uma tragédia desse tamanho, que pelo menos estejamos preparados", disse Milititsky.

Grupo vai fazer lista de orientações

Os técnicos que participaram das operações em Navegantes, Gaspar e Ilhota vão elaborar uma carta de recomendações para orientar o poder público a se preparar para as tragédias. O documento ainda não tem data para ficar pronto, mas a largada foi dada ontem, durante encontro em Joinville.

Esse documento deve ter dicas básicas, como a elaboração urgente de mapas de risco, a fiscalização de novas construções em locais que já passaram por desmoronamentos e, a longo prazo, o replanejamento urbano das regiões mais afetadas.

De acordo com o presidente da ABMS, Jarbas Milititsky, a instituição está preparada para colaborar com atitudes preventivas, que evitem a repetição dos fatos de 2008.

"No Japão, quando há terremotos, as pessoas já sabem como agir e o poder público já está preparado para enfrentá-los. É mais ou menos isso que temos que fazer aqui. A sociedade, os técnicos e o governo devem se organizar para prevenir catástrofes", disse.

A palavra do especialista (ANEXO)

Veículo: Jornal A Notícia.
Editoria: Geral.
Página: 12.