Censo 2010 vai começar e quer descobrir quantos brasileiros vivem fora do país

Quantos brasileiros moram no exterior e em quais países? O Censo Demográfico 2010, que o IBGE leva a campo a partir do dia 1º de agosto, tentará responder pela primeira vez a essa pergunta, que até hoje tem respostas muito parciais. O esforço de estimativa mais consistente e recente foi feito em 2008. O Ministério das Relações Exteriores (MRE) computou 3.040.993 pessoas vivendo em 117 países nos quais existe representação diplomática brasileira.

O ministério informa na pesquisa "Brasileiros no Mundo – Estimativas" que o levantamento é baseado em "informações locais (quando disponíveis), tais como levantamentos oficiais, estimativas feitas por organizações não governamentais ou pesquisas conduzidas pela mídia, ou em projeções feitas pelas embaixadas e consulados do Brasil".

O próprio ministério admite que entre as limitações do levantamento está o fato de que muitos brasileiros que vivem em situação irregular fora do país não procuram as representações do país no exterior temendo serem descobertos e repatriados.

O Censo vai perguntar no questionário básico, aquele que será aplicado em todos os domicílios do país, se alguma pessoa que ali residia estava morando em outro país no dia 31 de julho de 2010 (dia anterior ao início da pesquisa). Caso a resposta seja afirmativa, o recenseador perguntará o nome da pessoa (ou das pessoas), sexo, ano de nascimento, ano no qual deixou o Brasil pela última vez e o país onde está morando.

Marco Antônio dos Santos Alexandre, coordenador técnico do Censo Demográfico do IBGE, reconhece desde logo uma falha no levantamento. Ele não terá como computar aqueles casos nos quais toda a família migrou para o exterior e não haja pelo menos um membro para ser recenseado. Mas no próprio MRE admite-se que esses casos são bem minoritários.

Outra preocupação da equipe do IBGE é tranquilizar as famílias quanto à possibilidade de as informações servirem de base para que os outros países deportem brasileiros ilegais. "O IBGE não vai divulgar nomes. Não há risco de darmos pistas para que outros países saiam à caça de brasileiros", ressalta Alexandre.

A contagem de brasileiros morando no exterior é apenas uma das novidades do Censo 2010, o primeiro totalmente informatizado da história, cujas pesquisas terminarão no dia 31 de outubro. Em dezembro, o IBGE divulga a população total por sexo e situação de domicílios (urbana ou rural). Para realizar a tarefa no prazo deverão ser colocados em campo 192 mil recenseadores munidos de computador de mão, respondendo os questionários diretamente na tela.

Do orçamento total de R$ 1,6 bilhão, R$ 200 milhões foram aplicados em equipamentos. Os equipamentos de campo vieram da China e da Coreia do Sul. O Censo brasileiro ocorrerá ao mesmo tempo que os de outros 67 países, representando 47% da população mundial.

Entre as novidades no conteúdo do Censo estarão também um bloco de perguntas definindo etnia e língua falada pelas pessoas que se declararem indígenas. Segundo Alexandre, a inclusão dessas perguntas atende a pedidos da comunidade indigenista em busca informações mais precisas sobre a situação dos remanescentes dos povos nativos do Brasil.

Será também ampliada uma pergunta, que já constou no Censo de 2000, sobre deslocamento do município onde a pessoa mora para trabalho e estudo. Este ano, a pergunta será a mesma para estudo, mas para quem sai para trabalhar será pedido, além do nome do município onde trabalha, o tempo de deslocamento. A pergunta é uma demanda de setores ligados ao planejamento urbano que, a partir dos dados, poderão aperfeiçoar ou refazer os eixos de transporte das metrópoles, por exemplo.

Essa inovação será restrita ao questionário da amostra, um questionário mais amplo que não será aplicado em todos os domicílios. Aliás, o tamanho das amostras para efeito de aplicação do questionário maior é outra novidade importante. Em 2000, havia apenas duas amostras: de 10% dos domicílios para municípios com mais de 15 mil habitantes e de 20%, para aqueles com até 15 mil. Este ano haverá cinco categorias, desde 5%, para municípios com mais de 500 mil habitantes, até 50%, para aqueles com até 2,5 mil habitantes.

A pedido das prefeituras, haverá bairros ou distritos, dentro dos municípios com mais de 500 mil habitantes, que terão um percentual de domicílios que receberão o questionário completo superior a 5%. É o caso da ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro, onde a amostra será de 33%.

Em São Paulo, o bairro de Marsilac terá 20% e a Barra Funda, 10%. Maria Vilma Salles Garcia, coordenadora de logística do Censo, explicou que são casos nos quais a amostra de 5% não é suficiente para extrapolar os dados coletados, por serem comunidades pequenas.

Maria Vilma destacou ainda que haverá a possibilidade de os questionários do Censo 2010 serem respondidos via internet, sendo necessário que a pessoa interessada receba um código diretamente do recenseador. Mas o IBGE não está muito animado com a novidade.

Nos testes realizados aqui, e nas experiências de outros países, como Austrália e Espanha, apenas cerca de 15% dos que optaram por responder via internet cumpriram o combinado. Caso o questionário não seja respondido on-line, o recenseador terá que procurar novamente o domicílio para coletar os dados diretamente.

Veículo: Jornal Valor Econômico.
Editoria: Brasil.
Jornalista: Chico Santos, do Rio.