O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caiu 0,2% em 2009, no pior resultado desde 1992 (governo Collor), quando houve recuo de 0,5%. O PIB do último trimestre do ano passado, no entanto, cresceu 2% em relação ao trimestre anterior (8,2% anualizado), descontadas as influências sazonais.
A economia, na verdade, já retomou um ritmo que é, no mínimo, equivalente ao dos três primeiros trimestres de 2008, quando o crescimento em 12 meses estava em torno de 6,5%. O nível absoluto do PIB já quase encostou no do terceiro trimestre de 2008, que corresponde ao ponto mais alto jamais alcançado. Os dados do PIB foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O mau desempenho em 2009 foi puxado por dramáticas quedas na indústria e nos investimentos, de respectivamente 5,5% e 9,9%. Diretamente ligados à grande crise global deflagrada em setembro de 2008, esses resultados são os piores desde o início da atual série do PIB, em 1996. Na indústria, o pior desempenho em 2009 foi justamente o do coração do setor, a indústria de transformação, que recuou 7%.
"Os números de 2009 devem-se a uma pancada muito forte, mas que já está superada, com essa recuperação muito rápida", comentou o economista Samuel Pessôa, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV) no Rio.
O resultado brasileiro do ano passado, na realidade, representa mais uma estagnação do que uma queda, já que está muito próximo a zero. Numa comparação global de países de economia relevante, o Brasil figura entre os de performance menos ruim. Em valores, o PIB do Brasil em 2009 registrou R$ 3,143 trilhões.
Apesar do PIB decepcionante de 2009, o consumo das famílias continuou a crescer, registrando expansão de 4,1%. Isso significa uma quebra na aceleração entre 2004 e 2008, período no qual o indicador subiu em ritmo crescente de 3,8% até 7%. Ainda assim, como nota Pessôa, o crescimento do consumo das famílias de 4,1% fez com que a população sentisse os efeitos da crise de forma muito atenuada: "É o que explica a manutenção em alta da popularidade do governo".
Também ligado ao bom ritmo do consumo das famílias, o setor de serviços sobressaiu-se em 2009, sendo o único que apresentou variação positiva, com crescimento de 2,6%. O maior destaque nos serviços foi o segmento de intermediação financeira, que inclui crédito bancário, seguros, planos de saúde e previdência complementar, que cresceu 6,5% .
A agropecuária teve recuo de 5,2% no ano passado, prejudicada pela queda na produção de lavouras importantes. Houve quedas ainda na pecuária e na exploração florestal. Rebeca Palis, gerente de Contas Trimestrais do IBGE, nota que a agropecuária caiu em todos os trimestres de 2009, comparados a iguais períodos de 2008. "Todas as lavouras sofreram bastante no ano passado, não só pela crise mas também por causa das chuvas", comentou Rebeca.
O IBGE também anunciou ontem revisões em quatro dos três trimestres anteriores ao último de 2009 – exatamente o período que compreende a crise global, desde a quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008. A revisão mostra um PIB que cai mais no primeiro momento, mas também se recupera mais velozmente.
Assim, o resultado (sempre na comparação com o trimestre anterior, em base dessazonalizada)do último trimestre de 2008 passou de queda de 2,9% para 3,5%; o do primeiro trimestre de 2009 manteve-se em queda de 0,9%; o crescimento no segundo trimestre do ano passado aumentou de 1,1% para 1,4%; e o do terceiro trimestre subiu de 1,3% para 1,7%.
Rebeca explicou que não houve nenhuma revisão dos dados em si, mas que essas mudanças decorrem do método de dessazonalização, que sempre acarreta mudanças quando novo resultado trimestral é divulgado.
Na realidade, o mercado já esperava que houvesse revisões, e acertou em cheio o resultado do PIB de 2009, com a mediana das projeções colhidas pela Agência Estado batendo exatamente em recuo de 0,2%.
Veículo: Jornal O Estado de São Paulo.
Editoria: Nacional.
Jornalista: Fernando Dantas.