Cada escola com o seu jeito

A grade curricular do ensino médio, como é conhecida hoje, deve mudar em breve. Uma escola poderá dedicar mais aulas para história e menos tempo para matemática, se desejar. Um currículo mais flexível e atraente para o aluno é uma das alterações que serão votadas hoje pelo Conselho Nacional de Educação (CNE).

Se aprovadas, as novas diretrizes precisam ser homologadas pelo Ministério da Educação para entrarem em vigor. Em Santa Catarina, cerca de 210 mil estudantes podem ser atingidos. Hoje, a carga mínima é de 2,4 mil horas divididas em dois conjuntos de disciplinas: base comum, que inclui matérias tradicionais obrigatórias e a parte diversificada, com áreas escolhidas pela escola. O aluno precisa cumprir 75% da carga horária com as disciplinas tradicionais, e os 25% restantes podem ser dedicados aos conteúdos eletivos.

Pela proposta a ser votada, cada colégio poderia se especializar em uma entre quatro áreas de conhecimento: ciência, tecnologia, cultura e trabalho.

Uma escola que opte por cultura, por exemplo, poderia aumentar as aulas de história, geografia e português e reduzir o espaço de física, química e matemática. As disciplinas da base comum não podem deixar de ser ministradas.

Outras mudanças previstas são no ensino médio noturno, onde os alunos teriam quatro anos, em vez de três, para terminar os estudos. Eles teriam liberdade de flexibilizar os horários, já que muitos trabalham.

O ensino médio tem a maior taxa de abandono da educação básica. Em 2009, 11,5% dos 7,9 milhões dos alunos do ensino médio abandonaram os estudos. Enquanto no ensino fundamental, os índices de abandono foram de 2,3%, dos 17,2 milhões de matriculados nos anos iniciais (10 ao 50 ano) e 5,3%, dos 14,4 milhões de estudantes dos finais (60 ao 90 ano).

As mudanças agradaram o secretário de Estado da Educação Marco Tebaldi. Para ele, podem ser executadas em todas as escolas de Santa Catarina, que em 2009, registraram uma taxa de evasão de 6,8%, dos 232 mil matriculados. Tebaldi acrescenta que as alterações vão ao encontro do que a secretaria pretende implantar: o ensino médio integral.

– O aluno poderia optar pelo ensino médio integrado com o técnico e ser preparado para o mercado de trabalho, ou pelo ensino médio acadêmico, onde ele teria atividades complementares esportivas e culturais.

A coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de SC, Alvete Bedin, discorda. Ela acredita que fragmentar o currículo é arriscado e defende que os profissionais não estão preparados para escolher uma área para se dedicar mais.

– Quem iria definir qual é a vocação do colégio? O correto é as disciplinas terem um peso igual.

Polêmica a vista

PONTOS POSITIVOS

– Ao permitir que o aluno escolha uma escola mais voltada ao seu gosto, favorece o seu desempenho e permite a elevação de suas notas.

– Com notas mais elevadas, a chance de o aluno abandonar a escola ou ser reprovado no fim do ano é menor.

– Representa a possibilidade de cada escola refletir as características e os interesses da região onde se encontra, integrando melhor com a sociedade.

PONTOS NEGATIVOS

– Se um aluno busca um colégio com ênfase numa disciplina, mas as escolas próximas são voltadas para outras, ele terá de percorrer um trajeto mais longo.

– O fato de as escolas se especializarem em áreas pode levar a dificuldade de conseguir vaga na escola desejada.

– Escolas de regiões mais pobres do país podem nivelar por baixo o aprendizado em disciplinas como matemática, física ou química.

Veículo: Jornal Diário Catarinense.
Edição: 9159.
Editoria: Geral.
Página: 26.
Jornalista: Julia Antunes (julia.antunes@diario.com.br).