O futuro da margem esquerda

A enchente do começo do mês evidenciou um problema que vem desde as cheias de 1983, 1984 e 2008 e que se agrava a cada dia: a erosão da margem esquerda do Rio Itajaí-Açu. Constituída em grande parte por areia, acumulada durante milhares de anos devido ao curso do rio, a área não suportou à força da água e registrou nas últimas semanas deslizamentos que colocaram em risco 20 construções, de onde os moradores tiveram de sair.

Para fazer uma obra de contenção no local, a prefeitura pleiteia R$ 10 milhões do Ministério das Cidades. Para que o projeto possa ser colocado em prática com a verba pretendida, ele precisa ser aprovado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí, que se reunirá hoje, às 14h, para analisar a proposta.

No ano passado, o órgão rejeitou o projeto da prefeitura indicando que a ideia afetava o princípio de preservar e defender os rios contra eventos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais. Secretário de Planejamento Urbano de Blumenau, Walfredo Balistieri alega que a obra de contenção que a prefeitura pretende fazer, semelhante à já feita na margem direita do rio em 1969, é a melhor solução para a margem esquerda. Segundo ele, estudos feitos para desenvolver a proposta preveem o impacto da água dois quilômetros acima e dois quilômetros abaixo do ponto onde será feita a construção.

– Quando estávamos fazendo o projeto, houve interferência da Associação Catarinense de Preservação da Natureza (Acaprena) junto ao Ministério Público Federal. Mandamos os materiais para o Ministério e depois acatamos a correção feita por um doutor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – argumenta Balistieri.

Enquanto prefeitura e Comitê da Bacia discutem alternativas, a água continuará causando estragos na beira do rio. Conforme o gerente de Estudos Geológicos de Blumenau, Maurício Pozzobon, o risco é que, em busca de um novo traçado, o rio vá aos poucos causando a erosão na margem até encontrar um novo caminho por dentro do Bairro Ponta Aguda.

Doutor em Engenharia de Saneamento Básico e Recursos Hídricos, Adílson Pinheiro destaca que a tendência é que os efeitos da água na margem continuem evoluindo. Isso porque o rio está buscando nova condição de equilíbrio.

Pinheiro relata que as obras de dragagem, feitas na década de 1980 com o objetivo de diminuir o nível do Rio Itajaí-Açu em Blumenau, aumentaram a velocidade da água, que foi umas das causadoras dos atuais danos na margem esquerda.

Geógrafo e professor da Furb, Gilberto Friedenreich dos Santos explica que a facilidade da água em causar a erosão naquele ponto se deve ao fato de que a areia é um material fácil de ser consumido pelo rio.

– Quando se pega a areia na mão, ela se esfarela. É como acontece lá – exemplifica.

Data: 22 de setembro de 2011
Veículo: Jornal de Santa Catarina
Edição: 12369
Jornalista: Anderson Silva (anderson.silva@santa.com.br)

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