Doutor em Engenharia Civil e mestre em Geografia e Aproveitamento e Conservação de Recursos Naturais, Juarês José Aumond, produziu um dos capítulos do Manual de Deslizamento, em parceria com o biólogo Lauro Bacca e o mestre em Engenharia Civil e geotécnico Paulo Rogério. Em entrevista, o professor da Furb adianta que o diferencial da obra é explicar as causas e indicativos de escorregamentos didaticamente, facilitando a compreensão de leigos.
Jornal de Santa Catarina – Como o livro aborda a ocorrência de deslizamentos?
Juarês Aumond – Orienta o que deve ser feito em caso de chuvas, antes, durante e depois. O que fazer durante as tempestades intensas e o que fazer quando se suspeita de perigo de deslizamento. Ele mostra inclusive os diferentes tipos de escorregamento, de forma que um leigo pode saber com antecedência que tipo de escorregamento pode ocorrer na área dele. Se é de corrida de lama, detrito ou rotacional. Cada um tem uma característica própria que pode ser identificada pelas imagens e descrições.
Santa – Para quem é destinado?
Aumond – O manual é escrito em linguagem simples e acessível, mesmo para os leigos. Contém instruções preventivas e corretivas para quem vive em áreas de risco e para orientar e capacitar órgãos e instituições ambientais como ONGs, Defesa Civil e associação de moradores. Eu diria que para quem mora em áreas de risco, este é um manual bem simples e ao mesmo tempo técnico. É uma contribuição que vem no momento certo, diante das mudanças climáticas, não só para técnicos.
Santa – Qual a importância do manual na prevenção a desastres?
Aumond – Talvez seja o primeiro documento no Brasil abrangendo informações do mundo inteiro, com linguagem acessível, para qualquer canto deste país. Num momento em que um dos grandes problemas da Defesa Civil, se não o maior, são os escorregamentos de terra. Então é uma ferramenta importante para quem trabalha com desastres.
Santa – Como pode ser usado pelo leigo?
Aumond – É essencial porque é um manual de campo. Tendo em mãos, facilmente pode se começar a diagnosticar o fenômeno. Além disso, alivia a pressão sobre Defesa Civil e geólogos, que não estão dando conta da demanda de análise para cada ponto de deslizamento registrado nos municípios. Lógico que a análise do especialista é indispensável, mas a percepção do risco num primeiro momento pode ser feito pelo leigo também. Há de se considerar que até técnicos da Defesa Civil apresentam um despreparo para analisar ocorrências. Muitos têm dificuldade de identificar a suscetibilidade – possibilidade de haver escorregamentos – e a vulnerabilidade – grau de perdas geradas por uma ocorrência. Então o manual é um documento usado no mundo todo para orientar os procedimentos.
Santa – A versão lançada hoje tem a sua contribuição e de mais dois brasileiros para abordar a importância da vegetação na contenção de encostas. Qual a função das plantas nesse processo?
Aumond – Nós temos um solo muito profundo no Brasil e logo depois da tragédia de 2008, em Blumenau, o que mais se ouvia era barulho de motosserra cortando as árvores, justamente o que não se deve fazer. Salvo evidentemente quando uma árvore está prestes a cair sobre uma casa. Mas nas encostas sem problemas isso deve ser evitado. O capítulo fala do papel da vegetação para segurar as encostas.
Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Editoria: Geral.
Página: 14.